COVID-19 E TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM
O Instituto ABCD é uma organização social sem fins lucrativos que se dedica a gerar, promover e disseminar conhecimentos que tenham impacto positivo na vida de brasileiros com dislexia.
Atuam em parceria com educadores, pesquisadores, universidades e outras organizações para construir políticas e práticas educacionais que proporcionem a aprendizagem nas salas de aula de todo o Brasil.
Para abrir o ebook completo, basta clicar na imagem.
ALUNOS COM TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM NO ENSINO REMOTO
Olhando mais especificamente a relação entre professor e aluno com transtorno específico da aprendizagem (TEAp), o desafio de se adaptar rapidamente, para ambas as partes, é ainda maior. Alunos com esse perfil aprendem melhor a partir do uso de estratégias multissensoriais, ou seja, a interação favorece a construção de sua aprendizagem.
Pensando nisso, a realização de aulas no formato síncrono (ao vivo) é primordial. Entretanto, diante de tantos estímulos visuais e auditivos inevitáveis em aplicativos de reunião on-line - nos quais vários participantes podem falar ou exibir imagens ao mesmo tempo -, faz-se necessário pensar em adaptações também dentro desse formato, como são propostas a seguir:
• O aluno acompanhar as aulas com fones de ouvido. Isso evita a interferência de sons do ambiente doméstico, aumentando sua capacidade de focar o que está sendo exposto na aula on-line;
• O professor solicitar que os alunos desativem suas câmeras quando estiver apresentando mídia, evitando que o aluno se disperse com as telas dos demais colegas;
• O professor evitar solicitar leitura e resposta a perguntas não previamente combinadas com o aluno com TEAp, pois ele tende a se sentir ainda mais exposto e, consequentemente, ansioso nesse tipo de situação;
• O professor estabelecer acordos individuais com o aluno com TEAp e sua família: por exemplo, o aluno poder fazer pausas após conteúdos mais desafiadores e utilizar outros meios para expressar suas produções que não somente a forma escrita.
• O professor oferecer atividades específicas para estimulação das áreas em que o aluno apresenta dificuldade, a serem realizadas com o apoio da família. Essas atividades precisam conter instruções bem diretas e estar de acordo com as capacidades do aluno, para mantê-lo motivado e encorajado a superar dificuldades;
• O professor oferecer também a opção de aulas gravadas, pois há relatos de que alguns alunos com dificuldades de aprendizagem se beneficiam desse formato, uma vez que podem ir pausando o vídeo para tomar notas e acompanhar as explicações em seu ritmo.
Quando as aulas presenciais retornarem: uma avaliação diagnóstica inicial, seguida de programas de recuperação da aprendizagem; e uma comunicação frequente com as famílias, conforme endossado pela nota técnica "O retorno às aulas presenciais no contexto da pandemia da COVID-19" (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020). O documento afirma, ainda, que, mesmo com consistentes estratégias de mitigação durante a suspensão de aulas, impactos emocionais, físicos e cognitivos devem ser observados em todos os envolvidos no processo educacional, ou seja, alunos, professores e famílias.
Por fim, algumas dicas práticas podem aprimorar o trabalho do profissional que realiza teleatendimento. Confira a seguir.
NO INÍCIO DA SESSÃO, INFORME O PACIENTE SOBRE AS ATIVIDADES QUE SERÃO REALIZADAS
Trabalhar com previsibilidade e padrões pré-estabelecidos prepara o cérebro para o ato de aprender. Porém, é importante estar atento aos comportamentos do paciente para, quando necessário, flexibilizar as estratégias e atividades.
ADÉQUE OS DESAFIOS, OFEREÇA REFORÇOS POSITIVOS E FAÇA UMA ESCUTA EMPÁTICA
Na maioria das vezes, pacientes com dificuldades de aprendizagem manifestam insegurança diante de desafios. Por isso, necessitam de reforços positivos constantes.
Dimensionar o tamanho do desafio de acordo com as teleatendimento.
Escuta empática, afeto e acolhimento são fundamentais para esses pacientes e devem estar presentes durante todo o processo.
MANTENHA A QUALIDADE DA COMUNICAÇÃO
A compreensão da mensagem falada e o processamento do som são diferentes no meio virtual e no presencial. A compreensão e a qualidade da mensagem falada podem ser bastante prejudicadas e exigir do receptor um maior esforço atencional e auditivo, além de gerar cansaço, distração e desmotivação durante os teleatendimentos (PIRES; CALARGA, 2020).
Em pacientes com transtorno no processamento auditivo, todo esse esforço é ainda maior e pode comprometer a eficácia do teleatendimento.
Reduzir a velocidade da fala, garantir o contato visual, manter uma boa articulação na fala e utilizar expressões faciais e gestuais pode facilitar a compreensão da mensagem e a atenção do paciente. Procure garantir uma boa qualidade de vídeo também.
Utilize fones de ouvido (e oriente o paciente a fazer o mesmo), minimize ruídos de fundo, observe se seu ambiente tem boa acústica e faça uso de microfone externo, se for o caso, para maximizar a qualidade da comunicação e a discriminação dos sons.
ATENÇÃO AO TEMPO DE ATENDIMENTO
Devido à sobrecarga cognitiva, ao esforço auditivo e à fadiga ocular, vários especialistas têm mencionado que a duração dos teleatendimentos precisa ser menor que a dos atendimentos presenciais. Por exemplo, dividir o tempo usual do atendimento presencial em duas sessões com menor duração pode garantir maior controle atencional e motivação do paciente nos teleatendimentos (AZONI; LIRA, 2020).
CUIDE DE SUA AUDIÇÃO
A utilização de fones de ouvido pode ser importante nos teleatendimentos, porém o tempo prolongado de exposição a intensidades sonoras elevadas pode causar danos irreversíveis à audição (SANTANA et al., 2020).
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o volume do fone de ouvido não ultrapasse 60% da capacidade máxima do aparelho. Uma boa dica para saber se o volume (intensidade sonora) está adequado é notar se, enquanto está com o fone, o usuário ainda consegue escutar os sons a sua volta e quando alguém o chama a uma distância de aproximadamente 1 metro. Solicite à família do paciente que também observe se a intensidade está adequada. Além disso, é indicado uma pausa no uso do fone de ouvido após um tempo prolongado.
Fique atento a sintomas como zumbido ou pressão nos ouvidos, dificuldade para compreender a fala, falta de concentração e irritabilidade.
Ainda, aproveitar o teleatendimento para sensibilizar as famílias e os pacientes sobre essa questão tão importante pode beneficiar todos, já que é comum o uso de fones de ouvido para outros fins, como ouvir música ou jogar videogame.
CUIDE DE SEUS OLHOS
O tempo excessivo em frente a telas pode causar prurido (coceira), hiperemia (olho vermelho) e irritação nos olhos e turvação visual. Isso ocorre porque, ao usar telas, diminuímos a quantidade de piscadas e, consequentemente, reduzimos a lubrificação dos olhos. Este fenômeno é chamado de síndrome visual relacionada a computadores (SVRC). Estima-se que até 90% das pessoas que utilizam computador por mais de três horas diárias apresentem algum dos sintomas relacionados à SRVC, cuja principal causa é o ressecamento ocular (ALMODIN, 2020).
Por isso, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) recomenda:
• A cada hora, faça pequenas pausas de 5 a 10 minutos, preferencialmente fixando o olhar em um local distante, longe do monitor.
• Faça pausas maiores a cada período de 4 horas de uso do computador, smartphone ou tablet, a fim de evitar desconforto visual.
CUIDE DE SUA VOZ
O terapeuta deve redobrar os cuidados com sua voz, uma vez que o esforço vocal é frequentemente observado nos teleatendimentos.
Evite comer alimentos gordurosos ou à base de leite antes dos atendimentos, pois provocam excesso de muco na região da garganta, podendo levar a esforço vocal pela diminuição da vibração das pregas vocais (BEHLAU; PONTES, 2001).
Articule bem as palavras, mas procure falar sem esforço. Beba água com frequência ao longo dos teleatendimentos.