COVID-19 E TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM

26/08/2020

O Instituto ABCD é uma organização social sem fins lucrativos que se dedica a gerar, promover e disseminar conhecimentos que tenham impacto positivo na vida de brasileiros com dislexia.

Atuam em parceria com educadores, pesquisadores, universidades e outras organizações para construir políticas e práticas educacionais que proporcionem a aprendizagem nas salas de aula de todo o Brasil.

 Para abrir o ebook completo, basta clicar na imagem.

ALUNOS COM TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM NO ENSINO REMOTO

Olhando mais especificamente a relação entre professor e aluno com transtorno específico da aprendizagem (TEAp), o desafio de se adaptar rapidamente, para ambas as partes, é ainda maior. Alunos com esse perfil aprendem melhor a partir do uso de estratégias multissensoriais, ou seja, a interação favorece a construção de sua aprendizagem.

Pensando nisso, a realização de aulas no formato síncrono (ao vivo) é primordial. Entretanto, diante de tantos estímulos visuais e auditivos inevitáveis em aplicativos de reunião on-line - nos quais vários participantes podem falar ou exibir imagens ao mesmo tempo -, faz-se necessário pensar em adaptações também dentro desse formato, como são propostas a seguir:

• O aluno acompanhar as aulas com fones de ouvido. Isso evita a interferência de sons do ambiente doméstico, aumentando sua capacidade de focar o que está sendo exposto na aula on-line;

• O professor solicitar que os alunos desativem suas câmeras quando estiver apresentando mídia, evitando que o aluno se disperse com as telas dos demais colegas;

• O professor evitar solicitar leitura e resposta a perguntas não previamente combinadas com o aluno com TEAp, pois ele tende a se sentir ainda mais exposto e, consequentemente, ansioso nesse tipo de situação;

• O professor estabelecer acordos individuais com o aluno com TEAp e sua família: por exemplo, o aluno poder fazer pausas após conteúdos mais desafiadores e utilizar outros meios para expressar suas produções que não somente a forma escrita.

• O professor oferecer atividades específicas para estimulação das áreas em que o aluno apresenta dificuldade, a serem realizadas com o apoio da família. Essas atividades precisam conter instruções bem diretas e estar de acordo com as capacidades do aluno, para mantê-lo motivado e encorajado a superar dificuldades;

• O professor oferecer também a opção de aulas gravadas, pois há relatos de que alguns alunos com dificuldades de aprendizagem se beneficiam desse formato, uma vez que podem ir pausando o vídeo para tomar notas e acompanhar as explicações em seu ritmo.

Quando as aulas presenciais retornarem: uma avaliação diagnóstica inicial, seguida de programas de recuperação da aprendizagem; e uma comunicação frequente com as famílias, conforme endossado pela nota técnica "O retorno às aulas presenciais no contexto da pandemia da COVID-19" (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020). O documento afirma, ainda, que, mesmo com consistentes estratégias de mitigação durante a suspensão de aulas, impactos emocionais, físicos e cognitivos devem ser observados em todos os envolvidos no processo educacional, ou seja, alunos, professores e famílias.




Por fim, algumas dicas práticas podem aprimorar o trabalho do profissional que realiza teleatendimento. Confira a seguir.

NO INÍCIO DA SESSÃO, INFORME O PACIENTE SOBRE AS ATIVIDADES QUE SERÃO REALIZADAS

Trabalhar com previsibilidade e padrões pré-estabelecidos prepara o cérebro para o ato de aprender. Porém, é importante estar atento aos comportamentos do paciente para, quando necessário, flexibilizar as estratégias e atividades.

ADÉQUE OS DESAFIOS, OFEREÇA REFORÇOS POSITIVOS E FAÇA UMA ESCUTA EMPÁTICA

Na maioria das vezes, pacientes com dificuldades de aprendizagem manifestam insegurança diante de desafios. Por isso, necessitam de reforços positivos constantes.

Dimensionar o tamanho do desafio de acordo com as teleatendimento.

Escuta empática, afeto e acolhimento são fundamentais para esses pacientes e devem estar presentes durante todo o processo.

MANTENHA A QUALIDADE DA COMUNICAÇÃO

A compreensão da mensagem falada e o processamento do som são diferentes no meio virtual e no presencial. A compreensão e a qualidade da mensagem falada podem ser bastante prejudicadas e exigir do receptor um maior esforço atencional e auditivo, além de gerar cansaço, distração e desmotivação durante os teleatendimentos (PIRES; CALARGA, 2020).

Em pacientes com transtorno no processamento auditivo, todo esse esforço é ainda maior e pode comprometer a eficácia do teleatendimento.

Reduzir a velocidade da fala, garantir o contato visual, manter uma boa articulação na fala e utilizar expressões faciais e gestuais pode facilitar a compreensão da mensagem e a atenção do paciente. Procure garantir uma boa qualidade de vídeo também.

Utilize fones de ouvido (e oriente o paciente a fazer o mesmo), minimize ruídos de fundo, observe se seu ambiente tem boa acústica e faça uso de microfone externo, se for o caso, para maximizar a qualidade da comunicação e a discriminação dos sons.

ATENÇÃO AO TEMPO DE ATENDIMENTO

Devido à sobrecarga cognitiva, ao esforço auditivo e à fadiga ocular, vários especialistas têm mencionado que a duração dos teleatendimentos precisa ser menor que a dos atendimentos presenciais. Por exemplo, dividir o tempo usual do atendimento presencial em duas sessões com menor duração pode garantir maior controle atencional e motivação do paciente nos teleatendimentos (AZONI; LIRA, 2020).

CUIDE DE SUA AUDIÇÃO

A utilização de fones de ouvido pode ser importante nos teleatendimentos, porém o tempo prolongado de exposição a intensidades sonoras elevadas pode causar danos irreversíveis à audição (SANTANA et al., 2020).

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o volume do fone de ouvido não ultrapasse 60% da capacidade máxima do aparelho. Uma boa dica para saber se o volume (intensidade sonora) está adequado é notar se, enquanto está com o fone, o usuário ainda consegue escutar os sons a sua volta e quando alguém o chama a uma distância de aproximadamente 1 metro. Solicite à família do paciente que também observe se a intensidade está adequada. Além disso, é indicado uma pausa no uso do fone de ouvido após um tempo prolongado.

Fique atento a sintomas como zumbido ou pressão nos ouvidos, dificuldade para compreender a fala, falta de concentração e irritabilidade.

Ainda, aproveitar o teleatendimento para sensibilizar as famílias e os pacientes sobre essa questão tão importante pode beneficiar todos, já que é comum o uso de fones de ouvido para outros fins, como ouvir música ou jogar videogame.

CUIDE DE SEUS OLHOS

O tempo excessivo em frente a telas pode causar prurido (coceira), hiperemia (olho vermelho) e irritação nos olhos e turvação visual. Isso ocorre porque, ao usar telas, diminuímos a quantidade de piscadas e, consequentemente, reduzimos a lubrificação dos olhos. Este fenômeno é chamado de síndrome visual relacionada a computadores (SVRC). Estima-se que até 90% das pessoas que utilizam computador por mais de três horas diárias apresentem algum dos sintomas relacionados à SRVC, cuja principal causa é o ressecamento ocular (ALMODIN, 2020).

Por isso, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) recomenda:

• A cada hora, faça pequenas pausas de 5 a 10 minutos, preferencialmente fixando o olhar em um local distante, longe do monitor.

• Faça pausas maiores a cada período de 4 horas de uso do computador, smartphone ou tablet, a fim de evitar desconforto visual.

CUIDE DE SUA VOZ

O terapeuta deve redobrar os cuidados com sua voz, uma vez que o esforço vocal é frequentemente observado nos teleatendimentos.

Evite comer alimentos gordurosos ou à base de leite antes dos atendimentos, pois provocam excesso de muco na região da garganta, podendo levar a esforço vocal pela diminuição da vibração das pregas vocais (BEHLAU; PONTES, 2001).

Articule bem as palavras, mas procure falar sem esforço. Beba água com frequência ao longo dos teleatendimentos.


FONOAUDIOLOGIA CP2
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora